21 de fev. de 2011

Reflexão de sala de aula


(Professor Wadson. Texto escrito em 20/02/2011)

                Na semana passada, eu estava em uma das salas do 9º ano do ensino fundamental da nossa escola e houve dois comentários aparentemente desconexos. Porém, os dois me suscitaram um questionamento interno que talvez convenha dividir com vocês. Vamos lá, o primeiro foi uma pergunta totalmente fora do tema da aula e, por isso, respondi rapidamente para não perder tempo porque como todos sabemos a programação do Etapa não nos deixa espaço para divagações. Um aluno afirmou por algum motivo que eu admirava bastante a cultura japonesa. Sem pensar muito, disse que sim para não ter que dar maiores explicações. Na verdade, como bom brasileiro que sou, acho que temos muito a aprender com todos os povos do planeta. Uma das características mais marcantes e que, a meu ver, melhor nos define como povo, como já foi defendido por Oswald de Andrade e outros, é a antropofagia. Parece-me estúpido recusar aquilo que outros povos já fizeram ou fazem e que funcionam. Quanto aos japoneses, sempre admirei o profundo respeito que eles têm pela tradição, professores e idosos e, não raras vezes, critiquei e senti-me incomodado pelo fato de nós, brasileiros, não defendermos com veemência a nossa produção cultural e as nossas tradições: tenho a impressão de que só o “novo” nos interessa. Ao tomar aviões, por exemplo, espanta-me que nas companhias aéreas nacionais as aeromoças são, em sua maioria, jovens. Nunca entendi o porquê. 

                O outro fato foi um comentário feito por outros dois ou três alunos sobre um texto presente, na apostila, que trata sobre a dificuldade que escritores de língua portuguesa consagrados têm para criar um texto interessante e original. Os alunos disseram que o texto era chato. Tentei entendê-los, pois talvez eu também esteja velho demais para perceber quão antiquados são Rubem Braga, Raquel de Queirós, Clarice Lispector e Manuel Bandeira. Sai da escola pensando a respeito da função do ensino de língua portuguesa, no Brasil, nos dias atuais. O ensino de língua materna é vinculado à tradição cultural do nosso povo. Como podemos considerar “velho” o conhecimento e a arte transmitidos de geração em geração? Acredito que o desenvolvimento do nosso país e, em particular, dos nossos alunos dependem em grande parte do resgate e manutenção do nosso acervo cultural. Atualmente, é cada vez mais difícil conservar a especificidade de cada cultura. Por um lado, a globalização tem fabricado pessoas, ridiculamente, iguais: algo que se transforma em moda numa parte do mundo rapidamente chega a todos os confins. Nós nos vestimos com as mesmas marcas, falamos as mesmas gírias desprovidas de sentido etc. Em suma, há uma dificuldade cada vez maior de reflexão. Por outro lado, a globalização nos exige criatividade e conhecimento sólido para enfrentar o dinamismo que a acompanha. É consenso afirmar que o conhecimento foi, é e será garantia de poder. Portanto, leitores críticos e que são capazes de relacionar o “velho” com o “novo” estarão mais bem preparados para os desafios do século XXI. 

                Meus caros, não deixem se seduzir apenas pela beleza do “novo”. Aprendamos com o povo japonês. Devemos procurar na tradição respostas para os problemas atuais e futuros. Esse equilíbrio pode tornar o nosso país um lugar melhor.A seguir, algumas dicas para aprender a valorizar a tradição e apreendê-la: 

1- Converse sempre que possível com idosos. Eles têm muita experiência!
2- Procure ler mais sobre assuntos que, aparentemente, são considerados “velhos”.
3- Visite museus e procure entender a importância das obras que estão lá.
4- Converse com os seus professores. Eles possuem informações interessantes acerca das mais variadas áreas do conhecimento.
5- Leia os clássicos. Isso pode parecer difícil e chato. Mas, se eles são considerados clássicos deve de existir uma boa razão.
6- Em contextos formais, procure falar/escrever corretamente e com um vocabulário amplo e adequado. Ao falar/escrever, revelamos quem somos.
7- Tenha sempre uma atitude empática. Sempre, há algo para ser aprendido em qualquer situação.
8- Desconfie sempre de afirmações categóricas, questione e reflita sempre. 

                Para concluir, gostaria de agradecer aos alunos citados pelas colocações e parabenizá-los pela dedicação, pois mesmo aqueles que disseram que o texto proposto era chato mantiveram-se atentos à leitura e à discussão. Um grande abraço.

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