7 de dez. de 2011

Representante de classe: até que ponto sua eleição é boa para a escola e para os alunos?


        De Melissa Diniz para o Portal UNO de Ensino

Crédito: ©Szasz-Fabian Ilka Erika/Shutterstock
            Como saber se as medidas adotadas pela escola estão agradando aos alunos? Como ter certeza de que eles aprovam a forma como são avaliados? Ou que as atividades extracurriculares propostas pela instituição atendem às suas necessidades? Para obter-se essas e outras respostas, a existência de um representante de classe se mostra fundamental. 

          Embora alguns professores e coordenadores tenham dúvidas a esse respeito, especialistas afirmam que a existência de um aluno eleito pelos colegas, que possa negociar seus interesses com a escola, é uma medida democrática e muito benéfica tanto para educadores como para os educandos. "O representante deve ser - como o próprio nome diz - alguém que a maioria dos alunos da classe deseja que os represente", afirma Maria Irene Maluf, especialista em Psicopedagogia e Educação Especial. 


          Para a escola, surge a possibilidade única de um feedback sincero e valioso. "Talvez seja o mais importante retorno que a escola possa receber, pois os alunos estão ali, diariamente, vivenciando um processo de aprendizagem riquíssimo, não apenas do ponto de vista acadêmico, mas também social, cognitivo, emocional", diz. 


         Irene reforça que pequenas ou grandes correções no trabalho, principalmente indicadas pelos alunos e ponderadas pela instituição, vão atingir a vida dessas crianças, de suas famílias e da própria escola. "Essa 'escola viva' é a escola que aprende, se modifica e cresce com seus alunos", afirma. 


         Na avaliação da psicopedagoga, esta é uma situação muito rica de aprendizado para todos e que a escola não deve desprezar. Isso porque, de um lado, a eleição promove uma união maior da turma, que deve conversar e escolher alguém para falar por ela. Por outro lado, os candidatos também são incentivados a um exercício de liderança, a ter capacidade de autocrítica e ao desenvolvimento pessoal. 


         "Eles treinam uma série de habilidades importantes na vida profissional futura, como falar em público, ser empáticos com o pensamento alheio, mediadores, justos com o desejo da maioria, controlados em ações e atitudes", explica. 


          Para a professora Isabel Baptista Alves de Oliveira, diretora pedagógica do Colégio Fênix Santa Paula, em São Caetano do Sul, o representante de classe é a voz da turma e não um simples ajudante do professor. Trata-se de um aluno que personifica todos os anseios, sentimentos e pedidos da classe, funcionando como um mediador. "No colégio onde trabalho, as eleições de turma são incentivadas a partir do 6° ano, quando são feitas as campanhas eleitorais com direito a cartazes com torcidas." 


         Isabel ressalta que qualquer movimento que propicie a união dos alunos é bem-vindo. Porém, em sua visão, a relação entre os estudantes e coordenadores é fundamental para que todas as solicitações sejam ouvidas e avaliadas. "A escola deve incentivar a organização, mas mais importante que estimular que um grupo chegue ao poder é fazer com que a democracia esteja presente em seu dia a dia, encurtando o espaço entre estudantes, diretores e coordenadores", pondera. 


         Para Renata Volpi, coordenadora pedagógica do Colégio Renovatus, de Campinas, o representante deve atuar como um elo entre a equipe pedagógica e os alunos. "Nós acreditamos muito na proposta de um grêmio estudantil ativo. No colégio, procuramos incentivar esta iniciativa do 9°ano ao Ensino Médio." 


        A maior vantagem de se fazer isso, ressalta Renata, é que os alunos sentem-se inseridos no processo escolar. E a escola ainda pode receber um retorno dos estudantes sobre as medidas que adota. "Fazemos esta avaliação semestralmente com os alunos a partir do 6° ano para ajustarmos as nossas ações no decorrer do processo", diz. 


Representação para além da sala de aula 


        Mas nem sempre o processo de escolha do representante é pacífico e livre de conflitos, revela Irene Maluf. "Pode acontecer de o escolhido não ter o perfil ideal ou não ser o líder esperado pelos colegas e até pelos professores, e aí reside outro aprendizado que todos deveríamos enfatizar na educação de nossas crianças e jovens: o de estar atentos ao que os líderes fazem e cobrar deles uma boa representação", explica. 


       No entanto, Irene acredita que na maioria das vezes a escola e os alunos só têm a ganhar criando esse espaço de educação para a cidadania. "Parte a parte, haverá sempre um olhar crítico, construtivo, reformulador. Mas só será uma iniciativa válida se os limites de cada parte forem respeitados e se forem guardadas as questões de interesse maior da escola: o aprendizado acadêmico de bom nível e a formação de cidadãos responsáveis." 


       A participação do aluno, entretanto, não se resume à sala de aula. "Eles podem e devem avaliar tudo o que se refere ao teor das aulas em todos os aspectos, bem como dar sugestões de melhorias no espaço escolar. Cabe à escola ter o bom senso para analisar os apontamentos e tomar decisões que vão ao encontro de seus objetivos", afirma Renata. 


       Mas não pense que por serem crianças ou adolescentes, os alunos não tenham opiniões válidas. "A opinião deles é sempre relevante. Em minha escola nós analisamos todas as reivindicações, pois, às vezes, algo que parece absurdo pode se desdobrar como uma ideia genial", diz Isabel. 


       Segundo a professora, além das questões referentes ao cotidiano da turma, os alunos também podem participar das decisões sobre trabalhos realizados dentro da instituição, festas, viagens de formatura, feiras, entre outras atividades. 


       Para os que ainda têm dúvidas sobre a capacidade dos estudantes de opinarem de maneira criativa, Irene explica que existe uma diferença entre opinião gratuita, sem fundamentação, que a maioria das crianças externa, e a opinião que aparece ao longo do crescimento, quando os alunos são estimulados pela família e pela própria escola. 


       "Não se trata de criar indivíduos que reclamam ou opinam em tudo sem fundamentação, mas pessoas que se engajem no próprio processo educativo e aprendam a fazer uso da crítica construtiva, do compartilhar de ideias e, assim, serem capazes de assumir responsabilidades", diz. 


        Para as escolas que estejam interessadas em criar grêmios ou incentivar a eleição de representantes, Maria Irene Maluf dá um conselho: para ter chance de sucesso, todo movimento deve ser precedido de reflexão e normatização antes da ação. "Isso significa que é preciso ter um corpo docente e administrativo esclarecido, coeso, objetivos claros e normas bem pontuadas antes de abrir esse espaço novo de aprendizagem para os alunos", avisa a especialista.

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